Feminismo e futebol
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Feminismo e futebol

A luta das mulheres dentro e fora dos campos.

Renata Moara e Vanessa V. De Quadros 17 jul 2020, 19:02

A nova realidade que o Brasil enfrenta desde o início de Março tem reverberado debates em diversos campos da sociedade, mas sempre tocando nas estruturas fundacionais do nosso país: o racismo e o patriarcado. Desde a luta das mulheres da saúde na linha de frente nos hospitais à batalha permanente pela garantia do isolamento. Da campanha contra a violência doméstica à luta internacional de #VidasNegrasImportam. Desde os primeiros atos organizados pelas torcidas antifascistas de futebol até o histórico Breque dos Apps, são as contradições históricas do nosso país que explodem agora, mas não começaram agora.

Recentemente, Renê Simões fez uma defesa absurda e irresponsável da volta do futebol como ‘’solução’’ para violência doméstica: ‘’Vamos discutir o futebol como fator social para ajudar as pessoas que estão em casa enlouquecendo. Eu tenho amigos aqui que já se separaram, outros já bateram na mulher, outros batem nos filhos, estão enlouquecendo. Então se colocar futebol, pode ser que ajude em alguma coisa’’. Primeiramente, mais uma vez temos que explicar que a violência existe porque vivemos em uma sociedade dirigida por homens que naturalizam a violência e a morte. O retorno do futebol seria um erro duplamente assassino, pois, além de não encerrar a dominação machista, desconsidera a curva de dispersão do coronavírus. Segundo, é preciso dizer pra quem é esse futebol que Renê defende, enquanto não temos no horizonte a menor possibilidade de retomar atividades com aglomeração. Afinal, futebol sem torcida e sem povo não é futebol, mas sim lucro para poucos. 

Em terceiro lugar, esse comentário ao mesmo tempo que reflete o velho Brasil patriarcal, apaga também a história das mulheres no futebol: mulheres que são jogadoras, comentaristas e milhões de torcedoras. Renê Simões reflete um futebol de homens para homens, e não tem a menor preocupação com o crescimento das taxas de feminicídio, dos registros de BOs nas delegacias e com a alta subnotificação da violência machista. 

As mulheres enfrentam diariamente a carga de exploração e subjugação, dentro e fora das quatro linhas. Dentro de campo lidamos com baixos salários, falta de investimento no futebol de base, pouca valorização. Fora, sofremos assédio nas arquibancadas, nos postos de gandulas, comentaristas. E ainda lidamos com falas machistas e absurdas como a de Renê Simões.

Mas, a luta das mulheres também transborda dentro e fora de campo. Seja com a atuação impecável das jogadoras, com a campanha #JogueComoUmaMulher, seja com a organização de coletivos feministas nas torcidas, e a importante construção feminista nas torcidas antifascistas. Nós, torcedoras, também sentimos a ausência do futebol, e talvez esse momento seja a oportunidade de pensar qual cultura de futebol queremos quando voltarmos aos campos e às arquibancadas. Pois um futebol com memória popular é antipatriarcal, antirracista e antifascista.

O futebol reflete a sociedade, e a primavera feminista é irreversível também nesses espaços, o novo futebol vai ser construído pelas mãos e pelos pés das mulheres. 


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