O que querem as mulheres brasileiras em 2021?

O que querem as mulheres brasileiras em 2021?

Passada as eleições, o desafio é alcançar outras de nós, no espírito da luta feminista com intuito único de construir um mundo melhor.

Juntas por Natal 3 fev 2021, 18:37
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Após um ano tão desafiador como o de 2020, onde fomos nós mulheres as mais afetadas, é preciso impulsionar nossos passos para um novo horizonte. A chegada da pandemia aprofundou a crise no capitalismo, o que por consequência, tornou ainda mais visível as inúmeras dificuldades enfrentadas diariamente em nossas vidas. A primeira vítima do covid-19 foi uma mulher negra: Rosana Aparecida Urbano, de 57 anos. Vale salientar que falamos de uma empregada doméstica, uma das categorias mais frágeis nesse período, mulheres pobres que não podiam cumprir o isolamento social. Mas os riscos não se tratavam apenas do vírus, as mulheres que podiam estar em casa, também sofreram, com o aumento da violência doméstica cometida contra elas, com o aumento da jornada de trabalho — ao passar mais tempo em suas casas — principalmente quando falamos daquelas que são mães.

Nos deparamos com mães chorando a perda dos seus filhos para a violência estatal e a imprudência. Rafaela Coutinho matos, mãe do João Pedro, um adolescente de 14 anos que estava em casa quando foi alvejado por tiros e morto, e Mirtes Renata de Souza, mãe do Miguel, um menino de 5 anos que estava sobre os cuidados da patroa de Mirtes e caiu do nono andar de um prédio no Recife, no qual a mãe trabalhava, são alguns dos exemplos dessas mães. O conservadorismo também não deu brecha. Presenciamos uma cena horrível em que uma menina de 10 anos, violentada pelo próprio tio desde os 6 anos de idade, passava pelo procedimento de aborto legal, foi chamada de assassina e teve a sua identidade revelada.

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João Pedro, 14 anos, morto em operação policial

A crueldade do patriarcado apresentou a expressão “estupro culposo”, para absolver o empresário acusado de violentar a jovem Mariana Ferrer. O enfrentamento veio das ruas: mulheres do Brasil todo, mesmo diante da pandemia, se organizaram, através das redes sociais, rompendo também com o isolamento social, indo às ruas, exigindo a garantia dos seus direito e de dignidade.

Certo que não se tratou de um ano fácil, mas revelou a urgência da permanência na luta. Apesar de um aumento no número de mulheres candidatas nas últimas eleições, homens ainda são a maioria eleita, e por consequência, são também os que tomam decisões que por vezes afetam diretamente nossas vidas. Quando ocupamos os espaços de poder, percebe-se a urgência em construir novas formas de interação com base no respeito e na dignidade, atuando para coibir casos como o da deputada Isa Pena, por exemplo. O poder político nas mãos das que nos defendem é transformado em perigo de vida. É preciso proteger as nossas!

Como síntese de anos difíceis, do cansaço da violência e da indignação com a realidade que se impõe, um novo levante feminista é desenhado. Para isso, acreditamos que é preciso que o movimento feminista — fortalecido em sua diversidade — tenha por orientação à busca pela emancipação e a reconexão com o movimento dos trabalhadores, com centralidade na luta antirracista, na luta contra a LGBTfobia e na derrota do capitalismo. Já demonstramos a força necessária para tudo isso nos levantes feministas que constituíram uma nova geração de jovens mulheres conscientes de seus direitos e indignadas com sua realidade. Provamos que o machismo está atrelado a tantas outras violências e por isso é preciso um enfrentamento coerente, sistêmico e estrutural.

Ainda falta muito! O enfrentamento ao bolsonarismo e ao machismo precisa ser transformado em avanço. Desejamos Justiça para Marielle, para Dandara e para tantas de nós. Desejamos ter um processo de envelhecimento digno com uma aposentadoria justa. Buscamos a concretização de uma vida digna sem feminicídios e transfobias, com o fim da naturalização de um cenário de violência. Queremos ter o direito a usufruir, usar, sentir, maternar e dar prazer para um corpo que é nosso. Entre tantos outros desejos, precisamos da solidariedade mundial entre mulheres como instrumento que potencializa nossa organização, nos dando a possibilidade de estar nos partidos, coletivos, sindicatos, como lideranças comunitárias e nos espaços de direção e elaboração de políticas públicas.

São caminhos longos que serão percorridos mais rápidos se formos juntas. Por isso, aqui em Natal decidimos ir em coletividade; nos organizamos em nossos bairros, universidades, sindicatos e movimentos sociais e apresentamos uma candidatura feminista, coletiva e popular na radicalidade de apresentar novos sentidos. Passada as eleições, o desafio é alcançar outras de nós, no espírito da luta feminista com intuito único de construir um mundo melhor. A primavera se aproxima e é preciso que estejamos Juntas!


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