A relação entre trabalho e atividades domésticas no cenário da pandemia
Recorte da realidade atual das professoras e trabalhadoras da educação.
A pandemia da Covid-19 nos trouxe inúmeros desafios, tanto relacionados à saúde bem como na alteração da rotina de vida antes vista como “normal”. Embora saibamos que o home office já vinha sendo adotado em alguns setores, a urgência de adotar posturas de prevenção e enfrentamento à pandemia deu mais abrangência a esta prática, trazendo para muitas pessoas uma mudança repentina nas atividades laborais. Neste texto abordaremos os desafios que o home office trouxe para as mulheres, trabalhadoras da educação e responsáveis por suas famílias que precisam encontrar um ponto de equilíbrio entre cuidar e trabalhar.
Em tempos anteriores ao da pandemia as professoras habitualmente já levavam atividades, avaliações, projetos e demais documentos da escola para casa, o que por muitas vezes acabava por “invadir” a rotina doméstica e até mesmo o horário reservado ao descanso. Com o advento da pandemia da covid-19, fomos levados a adotar diferentes posturas e formas de desenvolvimento do trabalho, levando grande parte de nossas atividades para o ambiente virtual. Embora inicialmente pareça que conciliar o trabalho e as atividades domésticas seja confortável e favoreça uma rotina mais flexível, temos observado que, grande parte dos professores, em sua maioria composta por mulheres, têm vivenciado grandes dificuldades cotidianas ao tentar gerenciar atividades pedagógicas, o cuidado com familiares e a casa. Além de observarmos falta de planejamento das entidades para investir na capacitação de profissionais para o uso das novas tecnologias, destacamos também o aumento do número de horas trabalhadas, o que tem gerado a invasão do período anteriormente destinado ao descanso e organização da vida pessoal.
Frente aos novos desafios de educar através de plataformas de aprendizagem onde o contato e as trocas tão fundamentais para o processo são ausentes, muitos ainda tem que lidar com a pressão das entidades para a elaboração de atividades e postagens em moldes para muitos até então desconhecidos devido à falta de formação tecnológica em serviço e da frequente demanda de alunos e responsáveis que por vezes solicitam atendimento em horários que ultrapassam a jornada de trabalho de profissionais. Ligações, mensagens de whatsaap e interações através de redes sociais surgem nesta dinâmica onde inicialmente o foco seria proporcionar maiores possibilidades de sincronicidade e interação entre alunos e docentes, mas que acabam também gerando a exposição e invasão da vida privada. Paralelamente a isso, somamos as atividades domésticas e os cuidados com familiares que, infelizmente, ainda são atividades que historicamente são delegadas em sua maioria às mulheres. Com isso, temos observado um aumento de casos de saúde física e emocional que se potencializam no contexto da necessidade de isolamento trazida pela pandemia.
É necessário repensar e ressignificar papéis em diferentes cenários: trabalho, casa, família para que nós mulheres, trabalhadoras da educação, mães, chefes de família, companheiras e sobretudo cidadãs que têm seus objetivos e sonhos não tenhamos nossas vidas tão atingidas pela desigualdade nas divisões de responsabilidades domésticas que tem sido invadidas pelo universo do trabalho no cenário da pandemia.