114 anos de nascimento da artista plástica Frida Kahlo
Aniversário da pintora ocorreu no último 6 de julho.
Nascida em Coyoacán, Frida é a artista plástica mais contundente do século XX nas Américas, todavia, sua obra não se restringe ao extremo ocidente. Suas telas, em grande maioria autorretrato, compuseram exposições na França e ainda hoje estão presentes em galerias na Alemanha, Londres, Nova York, assim como, no México, Museu Frida Kahlo, nomeada ‘A casa azul’ onde antes residira.
Em uma generalização gratuita é possível considerar as pinturas de Kahlo mundialmente conhecidas pelo sofrimento retratado. Telas que expõem dores, sangue, morte, demarca-se também a ideia de aprisionamento em obras como: “Autorretrato com um colar de espinhos” (1940) e “Sem esperança” (1945). Nessa última, a própria Frida é retratada em uma cama, está imóvel, em oposição no fundo da tela há nuances rochosas que estipulam movimento; uma cama imóvel com lençóis brancos opostos também ao movimento das cores vibrantes da tela que jorram pela boca da figura retratada. Uma polaridade na expressão estética que dialoga muito com a vida pessoal de Kahlo. Em 1925, com apenas 18 anos, a pintora sofre um acidente de trânsito, deixando sequelas em seu corpo até o fim da vida.
Por muito tempo foi preciso a imobilidade, o cerceamento dos coletes protetores em seu corpo. Por outro lado, Frida não abandonou seu caráter forte e sua resistência frente às tragédias. Hayden Herrera (2011) esclarece muito bem – ao falar dos autorretratos de Frida – a dignidade da artista em suportar as coisas, “é a mistura de franqueza e artifício, integridade e autoinvenção que dá aos autorretratos, sua urgência, sua forma de aço imediatamente reconhecível.” Curadores de arte defendem que essas obras tão fortemente pessoais colaboram para a sensação de presença ainda hoje da artista mexicana.
Íntegra em suas vontades, Frida trazia em seu corpo as tradições da mulher mexicana e se reinventava sendo uma das primeiras mulheres a trabalhar a estética surrealista nas Américas. Frida Kahlo artista plástica, bissexual, deficiente física, comunista, referência para um feminismo plural e também radical por sua postura desafiadora e de vanguarda; em sua fidelidade ao Partido Comunista, Kahlo soube atrelar a importância da vida com a necessidade da revolução: “A revolução é harmonia de forma e cor e tudo existe e se move sob uma única lei – a vida”.
Frida Kahlo expressa a força da mulher latino-americana, corpo de país colonizado, considerada filha da Revolução Mexicana, sua imagem hoje traz e mantém todas as simbologias citadas. Uma imagem já multiplicada e recorrentemente estampada em produtos, tendo em vista muitas vezes apenas o lucro. Vale lembrar que em 2018, a empresa Mattel lançou uma linha de bonecas em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, dentre elas uma representação de Frida, embranquecida, sem traços da mulher latina, apagando a luta comunista da pintora em prol do ganho de capital.
Por isso, reconsiderar nesse mês de aniversário do nascimento de Frida Kahlo não sua face projetada infinitamente como marca, mas recuperarmos todas as representações desse corpo em movimento artístico e social. Mesmo sob amarras físicas e dolorosas, trouxe em suas palavras e trajetórias que ‘nada permanece, tudo é revolucionado’.
Referência:
HERRERA, Hayden. Frida: a biografia. Tradução Renato Marques. São Paulo: Globo, 2011.