Por um feminismo antirracista!
Declaração do coletivo Juntas! sobre os casos de racismo na organização do 8M Unificado – DF.
É com pesar que nós, feministas organizadas no coletivo Juntas!, organização nacional de mulheres em luta, presenciamos, pelo segundo ano consecutivo, casos de racismo durante a organização do ato referente ao 8 de março, Dia de Luta das Mulheres, no Distrito Federal e Entorno (DFE).
No ano passado, uma militante organizada no PCO (Partido da Causa Operária) chamou militantes negras de “capitães do mato”. O partido se recusou a assumir a responsabilidade sobre a fala de sua militante e se retratar com as companheiras negras, que sofreram racismo num espaço de luta, o que lhe custou a expulsão do grupo. Já neste ano de 2022, outra mulher branca, dessa vez organizada no PT (Partido dos Trabalhadores), disse barbaridades como “mulheres não têm cor” e “pessoas brancas também já foram escravizadas”, desconsiderando a centralidade da raça nas relações sociais no Brasil e no mundo, inclusive no que se refere à opressão às mulheres. O ponto mais acalorado, no entanto, girou em torno do debate sobre as cotas, em que a militante branca desprezou sua importância e não buscou compreender o que diziam as mulheres negras, ainda que muito didáticas.
O desconhecimento de como se organiza o racismo e a branquitude no Brasil e no mundo não é justificável, atualmente, por parte de militantes feministas organizadas em partidos políticos. Toda feminista branca tem a responsabilidade de aprender com as companheiras negras, escutando-as, lendo-as, reconhecendo que o feminismo precisa se reparar com seu histórico eurocentrado e universalista. Todo partido político que se compromete com a classe trabalhadora tem a responsabilidade de formar sua militância para a luta antirracista. Ainda mais porque o racismo é estrutural e pode se reproduzir em qualquer espaço, em qualquer organização. Reconhecer isso é o primeiro passo da luta antirracista.
Assim como o conjunto das mulheres negras que compõem a organização do 8M Unificado no DFE, o coletivo Juntas! destaca a necessidade dos partidos e coletivos políticos formarem sua militância. A formação pedagógica não pode recair nos ombros das companheiras que já sofrem o racismo cotidiano, deve ser compromisso das organizações políticas que as mulheres brancas fazem parte.
Pelo fim do racismo no 8M e para combater a ignorância baseada na desresponsabilização de militantes brancas e de suas organizações políticas, defendemos que mulheres negras tenham todo o protagonismo durante o ato que estamos organizando. Para que as companheiras negras que se retiraram da organização do ato possam se sentir seguras para voltarem, foi montada uma comissão de repactuação do 8M, uma vez que não faz sentido organizar o ato sem a presença da negritude. O primeiro 8M possível neste contexto pandêmico, em ano eleitoral, precisa ser o mais potente possível, para que a voz das mulheres ecoe com o “Fora Bolsonaro”.
Por nossas vidas, por democracia, por vacina no braço e comida no prato, é urgente ocuparmos as ruas!