“Red”: filme quebra tabu sobre menstruação e causa burburinho nas redes sociais
“Todas as garotas menstruam. Então, vamos normalizar e comemorar!”, diz a atriz Sandra Oh, no lançamento do filme este ano.
“Todas as garotas menstruam. Então, vamos normalizar e comemorar!”, diz a atriz Sandra Oh, no lançamento do filme este ano.
O filme Red é uma metáfora à puberdade feminina e ao início do ciclo menstrual, abordando a autonomia e interesses de jovens meninas. A protagonista Mei Mei é uma menina de 13 anos de idade, que vive em Toronto em 2002. Ela é filha única de uma família chinesa, seguindo todas as regras para ser uma “filha perfeita”: tira notas altas, faz atividades extra curriculares e ajuda os pais a administrar o templo chinês onde vivem e recebem inúmeros turistas curiosos por sua cultura.
Sendo o primeiro filme da Pixar dirigido exclusivamente por uma mulher e com equipe majoritariamente feminina, Red possui uma narrativa audiovisual que desconstrói estereótipos, quebrando tabus e falando abertamente sobre as particularidades do feminino.
A personagem principal lida muito bem com a pré-adolescência, até que um dia acorda transformada em um panda vermelho. A onda de hormônios a atinge e, a partir de então, ela não consegue controlar suas emoções, odeia sua mãe, sente um cheiro estranho vindo dela mesma e fica totalmente eufórica quando descobre que sua boyband preferida vai fazer um show na cidade. A própria família de Mei não consegue lidar tão bem com ela, desencadeando atritos e desentendimentos nas relações.
A metamorfose de Mei em panda vermelho faz parte de sua história e ancestralidade. No passado, essa magia chinesa era vista como dádiva, mas as gerações seguintes começaram a encará-la como um “inconveniente” perigoso e suas parentes decidem reprimir e esconder seu lado selvagem como panda vermelho.
O filme trata-se de uma corajosa e contemporânea narrativa sobre o amadurecimento dessa nova geração, convidando-a a abraçar sua força e selvageria de forma consciente. É normal que as meninas se sintam ansiosas e/ou envergonhadas no início da fase menstrual, e isso se dá por vivermos em uma sociedade estruturalmente machista, que sexualiza os corpos femininos e feminizados, com narrativas de pureza, limpeza e fertilidade, que são ideais inalcançáveis e irreais.
A menstruação se tornou um assunto tabu dentro da nossa sociedade, que é reforçado através de projetos políticos que excluem esse debate das escolas e comunidades. Quanto menos falado e normalizado, mais as meninas sentem que menstruar é um problema privado, motivo de vergonha, enquanto é um processo normal, saudável, que deveria ser confortável dentro da vivência de cada uma.
Recentemente, Bolsonaro tentou vetar o projeto de distribuição gratuita de absorventes, gerando um levante feminista de fúria, organização de ações solidárias e abaixo assinados, como o organizado por nós “Absorventes ficam, Bolsonaro sai!”, culminando na derrubada do veto em Março deste ano. É urgente que as pautas da pobreza menstrual, da transformação da criança em adolescente e todas as mudanças que acompanham a puberdade sejam debatidas e divulgadas. Só assim conseguiremos avançar na autoconfiança, segurança e politização dos corpos das meninas, que são o nosso futuro feminista.
Filmes como Red ajudam a quebrar tabus e criar oportunidades para conversas abertas e honestas. Durante o processo, a personagem vai descobrindo como lidar com os novos sentimentos aflorados, simbolizados pelo panda vermelho. Só assim ela é capaz de se aceitar, ganhando autenticidade e mudando, principalmente, a dinâmica das suas relações, com mais comunicação, transparência e confiança.
Fontes de referência: