“O direito de resistir”. Um manifesto feminista

“O direito de resistir”. Um manifesto feminista

Um chamado das feministas da Ucrânia em defesa do direito de resistir ao imperialismo russo.

11 jul 2022, 09:08

Via Commons

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Nós, feministas da Ucrânia, apelamos às feministas de todo o mundo para que se solidarizem com o movimento de resistência do povo ucraniano contra a guerra predatória e imperialista desencadeada pela Federação Russa. As narrativas de guerra retratam frequentemente as mulheres como vítimas. Contudo, na realidade, as mulheres também desempenham um papel fundamental nos movimentos de resistência, tanto na linha da frente quanto na frente interna: da Argélia ao Vietnã, da Síria à Palestina, do Curdistão à Ucrânia.

As autoras do manifesto da Resistência Feminista Contra a Guerra negam às mulheres ucranianas este direito à resistência, o que constitui um ato básico de autodefesa dos oprimidos. Em contraste, vemos a solidariedade feminista como uma prática política que deve ouvir as vozes das pessoas diretamente afetadas pela agressão imperialista. A solidariedade feminista deve defender o direito das mulheres a determinar, independentemente as suas necessidades, objetivos políticos e estratégias para os alcançar. As feministas ucranianas lutavam contra a discriminação sistémica, o patriarcado, o racismo e a exploração capitalista muito antes do momento presente. Conduzimos e continuaremos a conduzir esta luta, tanto durante a guerra quanto em tempos de paz. Contudo, a invasão russa está nos forçando a concentrar-nos no esforço de defesa geral da sociedade ucraniana: a luta pela sobrevivência, pelos direitos e liberdades básicas, pela autodeterminação política. Apelamos a uma avaliação informada a partir da situação específica em vez de uma análise geopolítica abstrata que ignore o contexto histórico, social e político. O pacifismo abstrato que condena todas as partes que participam na guerra conduz, na prática, a soluções irresponsáveis. Insistimos na diferença essencial entre a violência como meio de opressão e como meio legítimo de autodefesa.

A agressão russa mina as conquistas das feministas ucranianas na luta contra a opressão política e social. Nos territórios ocupados, o exército russo utiliza a violação em massa e outras formas de violência baseadas no gênero como uma estratégia militar. O estabelecimento do regime russo nestes territórios representa a ameaça de criminalizar as pessoas LGBTIQA+ e de descriminalizar a violência doméstica. Em toda a Ucrânia, o problema da violência doméstica está tornando-se mais agudo. A destruição maciça de infraestruturas civis, as ameaças ao ambiente, a inflação, a escassez e o deslocamento de populações põem em perigo a reprodução social. A guerra intensifica a divisão do trabalho em função do sexo, deslocando ainda mais o trabalho de reprodução social – em condições especialmente difíceis e precárias – para as mulheres. O desemprego crescente e o ataque do governo neoliberal aos direitos trabalhistas continuam a exacerbar os problemas sociais. Fugindo da guerra, muitas mulheres são obrigadas a abandonar o país, e encontram-se numa posição vulnerável devido a dificuldades de acesso à habitação, infraestruturas sociais, rendimentos estáveis, e serviços médicos (incluindo contracepção e aborto). Estão também em risco de ficarem presas no tráfico sexual.

Apelamos às feministas de todo o mundo para que apoiem a nossa luta. Exigimos:

– O direito à autodeterminação, proteção da vida e das liberdades fundamentais, e o direito à autodefesa (incluindo armada) para o povo ucraniano – bem como para outros povos que enfrentam a agressão imperialista;

– Uma paz justa, baseada na autodeterminação do povo ucraniano, tanto nos territórios controlados pela Ucrânia como nos seus territórios temporariamente ocupados, na qual os interesses dos trabalhadores, das mulheres, do povo LGBTIQA+, das minorias étnicas e de outros grupos oprimidos e discriminados serão tidos em conta;

– Justiça internacional para crimes de guerra e crimes contra a humanidade durante as guerras imperialistas da Federação Russa e de outros países;

– Garantias de segurança eficazes para a Ucrânia e mecanismos eficazes para evitar novas guerras, agressões e escaladas de conflitos na região e no mundo;

– Liberdade de circulação, proteção e segurança social para todos os refugiados e pessoas deslocadas internamente, independentemente da sua origem;

– Proteção e expansão dos direitos trabalhistas, oposição à exploração e superexploração, e democratização das relações laborais;

– Priorização da esfera da reprodução social (creches, escolas, instituições médicas, apoio social etc.) na reconstrução da Ucrânia após a guerra;

– Anulação da dívida externa da Ucrânia (e de outros países da periferia global) para a reconstrução pós-guerra e prevenção de novas políticas de austeridade;

– Proteção contra a violência baseada no gênero e garantia da implementação efetiva da Convenção de Istambul;

– Respeito pelos direitos e empoderamento das pessoas LGBTQIA+, minorias nacionais, pessoas com deficiência e outros grupos discriminados;

– Implementação dos direitos reprodutivos de jovens e mulheres, incluindo os direitos universais à educação sexual, serviços médicos, medicina, contracepção, e aborto;

– Garantia de visibilidade e reconhecimento do papel ativo da mulher na luta anti-imperialista;

– Inclusão das mulheres em todos os processos sociais e de tomada de decisões, tanto durante a guerra como em tempo de paz, em igualdade de condições com os homens;

Hoje, o imperialismo russo ameaça a existência da sociedade ucraniana e afeta o mundo inteiro. Nossa luta comum contra ele requer princípios compartilhados e apoio global. Exigimos solidariedade e ação feminista para proteger vidas humanas, assim como direitos, justiça social, liberdade e segurança.

Defendemos o direito de resistir.

Se a sociedade ucraniana depuser suas armas, não haverá sociedade ucraniana.

Se a Rússia depuser suas armas, a guerra terminará.

Assine o manifesto

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Assinaturas ucracianas:

Victoria Pigul, feminista, ativista do “Movimento Social”.

Oksana Dutchak, feminista, co-editora da Commons: Journal of Social Criticism

Oksana Potapova, ativista feminista, pesquisadora)

Anna Khvyl, Feminista, compositora, curadora

Daria Saburova, pesquisadora, membro da “Rede Europeia de Solidariedade com a Ucrânia”.

Hanna Manoilenko, ativista do coletivo FemSolution

Hanna Perekhoda, membro da “Rede Europeia de Solidariedade com a Ucrânia”, “Comité Ukraine Vaud” e “solidaritéS Vaud”.

Iryna Yuzyk, ativista dos direitos humanos, jornalista

Ana More, jornalista da “Hromadske radio”, ativista de direitos humanos

Valerija Zubatenko, ativista dos direitos humanos

Marta Guda, trabalhadora de TI

Victoria Vidiborets, blogueira e ativista feminista

Olga Kostina, membro do grupo de iniciativa “Igualdades em Kryvyi Rih” promovendo e apoiando a igualdade de gênero na cidade de Kryvyi Rih

Natalia L., co-autora de um fanzine sobre mulheres e pessoas trans em ambientes de trabalho precários

Marta Chumalo, feminista

Veronika Kanigina, estudante, feminista

Kateryna Mischenko, editora

Anastasia Sereda, professora, feminista interseccional

Oleksandra Manko, ativista feminista

Oleksandra Lysogor, ativista feminista

Olga Martynyuk, professora sênior do Departamento de História da Universidade Técnica Nacional da Ucrânia “Igor Sikorsky Kyiv Polytechnic Institute”.

Alona Lyasheva, membro do conselho editorial do Commons: Jornal da Crítica Social

Anastasia Grychkowska, ativista, estudante

Lilya Badekha, feminista independente

Kateryna Semchuk, feminista, jornalista, co-editora da Politychna Krytyka

Nargiza Shkrobotko, membro da Associação de graduados da Femencamp

Yaryna Degtyar, Membro da “Oficina Feminista”.

Ksenia Shaloimenko, jornalista

Mariyana Teklyuk, membro do grupo feminista “Resistanta”.

Anastasia Chebotaryova, membro da “Loja Feminista”, uma iniciativa de base de jovens feministas

Yustyna Kravchuk, autora, tradutora, Centro de Pesquisa de Cultura Visual / Bienal de Kyiv

Daria Gorobets, membro do “Yafa”, um grupo feminista de Zaporijjia

Maryna Usmanova, chefe da organização feminista “Insha”.

Maria Kanigina, estudante

Oksana Kis, pesquisadora, membro da Associação Ucraniana de Pesquisadoras de História da Mulher

Julia Vlaskina, música

Tamara Martseniuk, professora assistente no Departamento de Sociologia da Universidade Nacional “Academia Kyiv-Mohyla”.

Hanna Tsyba, estudiosa de estudos culturais, curadora de projetos culturais, jornalista

Liza Kuzmenko, chefe da ONG “Mulheres na Mídia”.

Karyna Lazaruk, pesquisadora de mídia, infografista

Anastasia Fischenko, estudante da Universidade Nacional Taras Shevchenko de Kyiv, membro da organização vegan e anarquista “Cozinha Solidária”.

Tamara Khurtsidze, estudante, voluntária

Nadia Parfan, diretora de cinema, produtora, curadora de projetos culturais

Tamara Zlobina, editora-chefe do recurso de mídia online “Gênero em detalhes”

Golovan Marya, ativista do grupo de iniciativa “Iguais em Kryvyi Rih”, apoiando as mulheres e defendendo seus direitos

Julia Lutiy-Moroz, membro do coletivo “FemSolution”.

Oleksandra Yakovleva, trabalhadora médica, feminista, ativista LGBT+, voluntária em uma organização horizontal especializada em ajuda humanitária e fornecimento de pessoal militar com o equipamento de proteção e medicina necessários

Daria Neopochatova, psicóloga

Oksana Slobodyana, enfermeira, ativista dos direitos trabalhistas dos trabalhadores médicos, co-fundadora do sindicato de enfermeiras “Seja como Nina

Olena Tarasik, membro do grupo de iniciativa “Iguais em Kryvyi Rih”.

Svitlana Babenko, bolsista e educadora, chefe do programa de Estudos de Gênero da Universidade Nacional Taras Shevchenko

Oksana Briukhovetska, artista, curadora de arte

Hanna Dovgopol, coordenadora do programa “Democracia de Gênero” na Fundação Heinrich Böll, Escritório de Kyiv-Ucrânia

Oksana Pavlenko, editora-chefe do divoche.media

Oksana Popadyuchenko, analista de negócios da Ukrnafta

Iryna Dobrovynska, freelancer

Zach Orliva, psicólogo

Maryna g., ativista autônoma

Anastasia Shevelyova, designer

Victoria Narizhna, tradutora, gerente cultural

Maya Bicek, designer no agrupamento de sal

Ganna Kasyanova, artista

Ninel Strelkovska, designer de experiência de aprendizagem

Kateryna Pankiv, psicóloga

Natalka Cheh, ativista de base

Olena Dyachenko

Assinaturas internacionais:

Elisa Moros, feminista e ativista anticapitalista, NPA e coletivo feminista ENSU (França)

Stefanie Prezioso, MP-Ensemble à Gauche, professora de história na universidade de Lausanne (Suiça)

Catherine Samary, economista e cientista política (França)

Zofia Malisz, Razem (Polônia)

Paula Kaufmann, Coletivo Juntas! (Brasil)

Huayra Llanque, Attac (França)

Riki Van Boeschoten, professor de antropologia e professor de antropologia da universidade de Tessália (Grécia)

Geneviève de Rham, feminista, ativista sindical (Suiça)

Julie Ferrua, Secretária Nacional, Union Syndicale Solidaires (França)

Sonia Mitralia, Feminist Asylum, ENSUFEMINIST (Grécia)

Catherine Bloch-London, Attac (França)

Kavita Krishnan, ativista feminista marxista (India)

Alessandra Mezzadri, economista política feminista, SOAS (Reino Unido)

Ludivine Bantigny, historiadora (França)

Christine Poupin, representante NPA (França)

Sherry Baron, médica de saúde pública e professora na City University of New York (Estados Unidos)

Dawn Marie Paley, jornalista (México/Canadá)

Elea Foster, editora (Grécia)

Vivi Reis, deputada federal, PSOL (Brasil)

Nancy Holmstrom, professora emérita em filosofia, Rutgers University, New Politics journal (Estados Unidos)

Fernanda Melchionna, deputada federal, PSOL (Brasil)

Céline Cantat, Socióloga (França)

Nadia Oleszczuk, KP Youth OPZZ / sindicalista (Polônia)

Laura Esikoff, psicoanalista (Estado Unidos)

Sâmia Bomfim, deputada federal, PSOL (Brasil)

Luana Alves, vereadora de São Paulo, PSOL (Brasil)

Marie Fonjallaz, Grève féministe Vaud/Feminist strike Vaud (Suiça)

Frieda Afary, bilbiotecária americana de origem iraniana, autora do livro “Socialist Feminism: A New Approach” (Estaod Unidos)

Ania Deryło, FemFund (Polônia)

Janna Araeva, Bishkek Feminists (Kyrgystan)

Athena Moss, artista sypsa (Grécia)

Penelope Duggan, International Viewpoint (França)

Nurzhan Estebes, Bishkek Feminist Initiative (Kyrgystan)

Yuliya Yurchuk, historiadora da Universidade de Södertörn (Suiça)

Nino Ugrekhelidze, ativista feminista, liderança das parcerias filantrópicas na VOICE Amplified (Georgia)

Rohini Hensman, escritora, pesquisadora e ativista (India)

Gabriele Dietrich,

Pennurimai Iyakkam, movimento de mulheres Tamil Nadu (Índia)

Pamela, jornalista independente (Índia)

Meera Sanghamitra, National Alliance of People’s Movements comprometidos com um mundo livre de guerra e tecnologia nuclear (Índia)

Irina Novac, ativista feminista (România)

Shubhra Nagalia, estudos de gênero, School of Human Studies (Índia)

Kelly Shawn, Joseph Aid worker, working on women’s rights (USA)

Jacline Choulat, Grève féministe Vaud /Feminist strike Vaud (Switzerland)

Elisabeth Germain, Feminist activist (Canada)

Shabnam Hashmi, Socialist activist/democracy/gender equality/ANHAD (India) R

Ranjana Padhi, Feminist activist and author (India)

Anuradha Banerji, Activist,

Saheli Ashima Roy, Chowdhury Women’s Resource Centre (New Delhi, India)

Lewis Emmerton, SheDecides (UK)

Melampianaki Zetta, editorial team of www.elaliberta.gr (Greece)

Ema Kurtova, Aspekt (Slovaquie)

Vanessa Monney, Collectif de la Grève féministe (Switzerland)

Murielle Guilibert, Union Syndicale Solidaires (France)

Davyd Chychkan, Artist (Ukraine)

John Meehan, Activist (Ireland)

Joel Beinin Donald, J. McLachlan Professor of History, Emeritus, Stanford University (USA)

Dawid Zygmunt Razem (Poland)

Dan La Botz Co-Editor, New Politics (USA)

Sam Farber, Retired Professor (USA)

Thomas Harrison, Retired teacher (USA)

Jean Batou, Elected representative (Geneva) Ensemble à Gauche, Réseau Penser l’Émancipation (Switzerland)


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