Há uma grande expectativa em torno do processo eleitoral de 2022. Muitas de nós que passamos os últimos quatro anos combatendo intensamente nas ruas, nas redes e nos nossos territórios a política de morte encabeçada por Jair Bolsonaro depositamos nestas eleições a esperança de um primeiro passo para o início da derrocada do bolsonarismo, com a vitória de Lula nas urnas. 

Na reta final da disputa do primeiro turno, apresentou-se uma possibilidade, ainda que remota, da derrota de Bolsonaro já no dia 02 de outubro.   Por conta disso, houve uma certa decepção na vanguarda à medida que a apuração avançava mostrando uma votação maior de Bolsonaro do que vinham apontando as pesquisas. 

É frustrante que após tantas mortes que poderiam ter sido evitadas, o aumento da fome e o maior escândalo de corrupção do mundo, Bolsonaro continue tendo tanta força política, elegendo já no primeiro turno oito governadores e uma bancada expressiva no Senado e na Câmara dos Deputados. Muitos fatores podem ajudar a explicar este desempenho, entre eles o aumento do Auxílio Brasil em um período tão próximo à eleição, a compra de parlamentares aliados através do orçamento secreto, uma retomada no lucro da burguesia no último semestre e a canalização do racismo, da misoginia e da LGBTfobia presentes na sociedade brasileira por setores de extrema direita para seu projeto de poder. 

Além disso, apesar de conseguir articular amplos setores políticos através da superestrutura e ter uma ligação quase afetiva com uma parcela da população, Lula não mobiliza as ruas mais como antigamente. Os comícios foram mais esvaziados do que poderiam ser, o PT não organizou quase nenhuma campanha de rua de perfil militante com panfletagens e banquinhas e as mobilizações contra Bolsonaro convocadas no período eleitoral, como no dia 10 de setembro, foram esvaziadas e ignorada por setores da esquerda. 

No entanto, não podemos perder de perspectiva um dado fundamental: Lula ganhou o primeiro turno, algo inédito em uma eleição com um presidente tentando reeleição. Foram 6 milhões de votos de diferença entre Lula e Bolsonaro. Aquelas e aqueles que queremos acabar com o projeto do bolsonarismo somos maioria. Nossa tarefa é depositar todos nossos esforços para alcançar a vitória de Lula nas urnas para ter condições de seguir organizando, com ainda mais força, a luta contra o bolsonarismo nas ruas.

As eleições também demonstraram que o peso do feminismo, e em especial do debate sobre violência contra mulher, segue forte na sociedade. Uma boa parte desse sentimento foi capitaneado por Simone Tebet, como representante de um feminismo liberal que não nos ilude, mas dialoga com a demanda por maior representatividade feminina. Mas a maior parte das feministas já estava alinhada com Lula no primeiro turno, pela compreensão da urgência da derrota de Bolsonaro, ainda que sua campanha e seu projeto não correspondam aos anseios e ao programa construídos nas ruas pela primavera feminista. 

Além disso, nas casas legislativas as mulheres tiveram votações muito expressivas, infelizmente muitas destas da direita, como Damares Alves, eleita senadora pelo Distrito Federal. Mas também houve votações muito importantes de mulheres de esquerda e do PSOL, como a reeleição de Sâmia Bomfim, Fernanda Melchionna, Talíria Petrone e Luiza Erundina para o Congresso Federal e a entrada de Érika Hilton, Sônia Guajajara e Célia Xakriabá. Luciana Genro foi a mulher mais votada para a Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, as Pretas foram eleitas para a Assembléia Legislativa de São Paulo e Renata Souza foi a terceira deputada mais votada para a Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, entre outras cadeiras importantes conquistadas. Também destacamos o desempenho notável da candidatura de Vivi Reis, que se fortalece como representante de uma esquerda feminista do Pará com mais de 53 mil votos, apesar de o PSOL não ter alcançado o quoeficiente eleitoral para conquistar uma cadeira do estado na Câmara.

Agora é necessário girarmos todas as nossas forças para eleger Lula e derrotar Bolsonaro no dia 30 de outubro. Devemos colocar nosso esforço militante para convencer aquelas que não foram às urnas no primeiro turno a votarem no segundo turno, conquistar o voto daquelas que escolheram outro candidato e convencer a maioria do povo brasilieiro de que o projeto de morte de Jair Bolsonaro precisa parar agora! Por isso, estamos organizando no dia 11 de outubro, terça-feira, às 19h uma plenária nacional feminista em um esforço de suprir as deficiências da esquerda e colocar o movimento feminista nas ruas para virar votos e derrotar Bolsonaro nas urnas. Organizaremos panfletagens nas mais diversas cidades, distribuição de materiais e cartazes, além de organizar uma ofensiva nas redes para eleger Lula. Te esperamos lá para juntas derrotar Bolsonaro!