Monogamia e não-monogamia: em uma perspectiva LBT
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Monogamia e não-monogamia: em uma perspectiva LBT

Esse texto reflete a opinião individual da autora. O Juntas! não tem uma posição definida sobre monogamia e não-monogamia, sendo um debate em aberto no coletivo.

Laís Buarque 25 set 2023, 13:46

A interação entre casamento, família e propriedade privada é um tema de análise crítica ao longo da história, revelando conexões profundas entre essas instituições. A necessidade da transmissão de propriedade privada moldou as estruturas familiares e influenciou o conceito de casamento, tornando-o central para o capitalismo e o direito sucessório. Observamos como o casamento monogâmico heterossexual muitas vezes serve para assegurar a transmissão hereditária de propriedades e riqueza através também da maternidade compulsória, enquanto regula a sexualidade das mulheres e as subordina na dinâmica familiar. Essa relação complexa demonstra como essas instituições desempenham um papel violento com as mulheres, visando preservação das hierarquias sociais e econômicas ao longo do tempo. Mas essa exclusividade nunca foi imposta aos homens.

Recentemente temos visto um crescente interesse em discussões sobre não monogamia nas redes sociais, o que é um passo muito positivo para revisarmos nossas relações e formas de amar. Mas esses debates em sua grande maioria, não abraçam a dinâmica dos relacionamentos sáficos (relações entre mulheres) LBT. Dentro desse modelo de relacionamento, não existe – ou não deveria existir – o patriarcado, justamente por não haver a presença da figura masculina. Esse tipo de relacionamento, por exemplo, não são mencionados como pecado na Bíblia, uma vez que a mulher não era reconhecida como um indivíduo independente. Nesse contexto, a relação entre mulheres ser reconhecida como válida por si só já é fruto de muita luta, historicamente baseada em companheirismo, que ainda segue na luta por direitos básicos.

Na vanguarda de esquerda é comum os padrões de relacionamentos heteronormativos muitas vezes serem pautados e questionados em debates sobre como o casamento civil e a monogamia são reproduções de padrões que são impostos por instituição de uma sociedade burguesa e patriarcal. No entanto, para nós, mulheres LBT, esse tipo de relacionamento é ainda um direito conquistado com muita luta, e mesmo assim, é frequentemente questionado pela extrema direita, como vimos nas últimas semanas no congresso nacional, uma tentativa através de um projeto de lei para vetar o casamento civil homoafetivo na Comissão de Previdência e Família da Câmara dos Deputados.

Exemplifico, quando estamos em uma balada e negamos beijar um homem e dizemos “tenho namorada”, é comum que o homem pergunte se pode participar, pois não só ele como a sociedade não nos considera como parte de um relacionamento “de verdade”, e no imaginário masculino nossos afetos são frequentemente fetichizados, desconsiderados e invalidados de forma extremamente violenta.

Dito isso, é importante ressaltar que a monogamia não necessariamente é tóxica. O que falta muitas vezes nesse debate é um recorte de gênero, e principalmente, uma análise mais aprofundada sobre qual é a posição da mulher no relacionamento monogâmico. A monogamia pode ser uma escolha válida, desde que seja uma escolha feita livremente e que as mulheres não se sintam subjugadas ou oprimidas dentro desse modelo de relacionamento.

É fundamental que continuemos a questionar as normas sociais que moldam nossas relações e que busquemos sempre a igualdade de gênero, não importa qual seja o tipo de relacionamento que escolhemos. Nossa luta segue para que todas as mulheres tenham voz, direito de escolha e autonomia em suas relações, sejam elas monogâmicas, não monogâmicas, sáficas ou heterossexuais. Precisamos ainda colocar cada debate em seu devido lugar, a monogamia em relacionamentos LBT não é sinônimo de um relacionamento que reproduz o patriarcado. Todos os relacionamentos entre pessoas devem ter seus afetos e combinados, em constante debate interno sobre o que cada um se sente confortável, atualizando e revendo estes combinados. É importante ressaltar que a monogamia também pode ser vista como um direito das pessoas LGBTIAQ+, desde que seja uma escolha livre e consciente, baseada no companheirismo e no amor mútuo, sem servir como uma ferramenta de opressão. É preciso reconhecer a complexidade das relações humanas e travar debates com seriedade e visão da totalidade das relações humanas.


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