60 anos do golpe: às ruas por prisão a Bolsonaro, sem anistia aos golpistas!
Mais do que nunca, é preciso enfrentar o poder que os militares ainda têm no Brasil. Isso passa necessariamente pela prisão de Bolsonaro.
No próximo 1º de abril, completam-se os 60 anos do golpe civil-militar que inaugurou o período mais obscuro da república brasileira. O Golpe de 1964 foi uma resposta protagonizada pelos militares, a serviço dos interesses das burguesias nacional e internacional, à possibilidade de reformas progressistas no país, em especial a reforma agrária. O então presidente João Goulart tinha pouquíssima margem para avançar em suas Reformas de Base por dentro das instituições e por isso contava com a mobilização popular.
Foi apenas 21 anos depois do golpe que os militares, sob seus próprios termos, devolveram à maioria da população o direito de votar, de se organizar politicamente e de se manifestar em público. Os termos dos militares incluíram sua própria anistia e a escolha do primeiro presidente civil de forma indireta, sem eleições. Diferentemente de outros países da América do Sul, que também superavam suas próprias fases ditatoriais, no Brasil os milicos saíram ilesos e cheios de poder, tendo influência inclusive sobre a constituinte. E como comprovamos muito recentemente, até hoje estamos sob suas mãos e seus interesses.
O golpe institucional de 2016 e a intentona golpista violenta de 08 de janeiro de 2023 têm relação direta com o poder dos militares e a ausência de reparação histórica. Só não voltamos a um regime autoritário porque não foi do interesse dos EUA e nem da burguesia nacional uma ruptura antidemocrática. Qual seria a necessidade, se o prognóstico era de que, vencendo Lula ou Bolsonaro, a política econômica permaneceria de austeridade e desmonte dos direitos sociais?
A burguesia permitiria, sim, que o regime fechasse pelo voto popular, caso Bolsonaro se reelegesse, ou pela força, caso a intentona golpista vingasse em janeiro de 23. Mas ela e a maior parte das suas Forças Armadas não viram necessidade de se envolver diretamente. Acontece que os milicos, chamados a agir, se omitiram em denunciar os planos bolsonaristas e, mais uma vez, permanecerão anistiados.
Lula, não satisfeito com as conciliações que lhe significaram a continuidade e aprofundamento da política ultraliberal de Temer e Bolsonaro, optou agora por presentear os milicos com a proibição de que a ala mais progressista (e mais despossuída de autonomia) de seu governo faça eventos oficiais em alusão aos 60 anos do golpe militar. Para ele, figuras como a de Silvio Almeida, Sônia Guajajara e Anielle Franco, com toda a contribuição que poderiam dar à democracia brasileira, não passam de tokens úteis ao seu governo neoliberal com adereços progressistas. No lugar de aproveitar a janela em que os milicos estão desgastados pelas investigações que chegam em figuras da alta cúpula do Exército e de Bolsonaro para contribuir com a reparação histórica e com o avanço de consciência popular contra o fascismo, Lula escolheu o silêncio e o desincentivo de que o povo vá às ruas, que há anos são hegemonizadas pela extrema-direita. Esta, sim, aposta na força das ruas contra um regime que não lhe apraz.
Mais do que nunca, é preciso enfrentar o poder que os militares ainda têm no Brasil. Isso passa necessariamente pela prisão de Bolsonaro, o mínimo que se pode fazer por justiça a tantas famílias que perderam desnecessariamente seus entes queridos para a covid-19, ao genocídio ianomame, ao incentivo explícito à devastação dos biomas e à tentativa de nos impor novamente um período em que lutar seja risco para torturas, morte e exílio. Mas o silêncio de Lula e os discursos que banalizam os 21 anos de horror da ditadura vão na contramão da justiça e fortalecem a extrema-direita.
A precarização da vida do povo, pelo arrocho contra as políticas sociais e a carestia aos bens básicos de consumo, somada à desmobilização dos setores progressistas, conscientemente promovida pelo PT e seus satélites, é a receita perfeita para o retorno do fascismo, por vias eleitorais mesmo, ao poder. Por isso, nós do coletivo Juntas!, parte de uma esquerda que ousa dizer seu nome, continuaremos nas ruas por prisão a Bolsonaro, contra a anistia aos golpistas e contra a política ultraliberal de Lula e Haddad. O caminho por justiça é recordar o que significou o porão do DOI-CODI, em especial para nós, mulheres, vítimas preferidas do violador Ustra. É questionar os privilégios dos milicos e sua presença na política. É apoiar os trabalhadores em todas as suas reivindicações, como fazem os técnicos-administrativos das universidades federais em greve e os trabalhadores de aplicativos contra a regulamentação absurda promovida por Lula, que precariza ainda mais seu trabalho!
Silêncio é sinônimo de anistia. Deixar de rememorar o passado sombrio é permitir que ele se repita.