A exploração capitalista da violência sexual: Por que a extrema direita defende estupradores, pedófilos e a proibição do aborto?
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A exploração capitalista da violência sexual: Por que a extrema direita defende estupradores, pedófilos e a proibição do aborto?

Em um sistema capitalista que se alimenta da opressão de gênero, raça e classe, a pedofilia, o estupro e a negação do aborto não são meros “desvios morais”, mas ferramentas estruturais para a reprodução do capital e do patriarcado.

Vanessa Brasil 17 nov 2025, 16:53

Em um sistema capitalista que se alimenta da opressão de gênero, raça e classe, a pedofilia, o estupro e a negação do aborto não são meros “desvios morais”, mas ferramentas estruturais para a reprodução do capital e do patriarcado. Autores como Silvia Federici, Angela Davis, Maria Mies e Nancy Fraser, inspiradas, demonstram como a violência sexual contra mulheres e crianças é funcional ao modo de produção capitalista. A extrema direita mundial, de Bolsonaro a Trump, de Orbán a Milei, não “defende” estupradores por acaso: ela os instrumentaliza para manter a força de trabalho barata, a família nuclear como unidade de consumo e o controle sobre os corpos femininos. O neoliberalismo, por sua vez, opera como o braço econômico dessa agenda, privatizando direitos reprodutivos, terceirizando o cuidado e transformando a violência de gênero em lucro. Este artigo, baseado em análises socialistas e feministas, explica os ganhos materiais e ideológicos dessa aliança reacionária.

1. O Estupro e a Pedofilia como Mecanismos de Reprodução da Força de Trabalho: 

Karl Marx, em O Capital, já apontava que o capitalismo precisa de uma “população excedente” para pressionar salários para baixo. Mas é o feminismo marxista que revela como a violência sexual cumpre essa função. Silvia Federici, em Calibã e a Bruxa (2004), argumenta que a caça às bruxas na Europa primitiva serviu para disciplinar os corpos das mulheres, expropriar seu trabalho reprodutivo e garantir a acumulação originária. Hoje, o estupro e a pedofilia operam de forma análoga.

O Controle demográfico forçado: Negar o aborto em casos de estupro ou má-formação fetal (como defende a extrema direita brasileira no PL do Estupro) força mulheres e meninas e pessoas que gostam a gerar filhos indesejados, isso aumenta a oferta de mão de obra futura em condições precárias. Maria Mies em Patriarcado e Acumulação em Escala Mundial, chama isso de “produção de colonizados internos” que são crianças nascidas de violência se tornando trabalhadores descartáveis, sem direitos, mantendo a superpopulação relativa que Marx descreve como “exército industrial de reserva”.

Desvalorização do trabalho feminino: 

Angela Davis, em Mulheres, Raça e Classe (1981), mostra como o estupro de mulheres negras escravizadas nos EUA produzia mais escravos sem custo para o senhor. No capitalismo contemporâneo, o estupro de trabalhadoras migrantes ou pobres (muitas vezes crianças) as impede de se organizarem  ou exigir salários dignos ficando a mercê dessa lógica de exploração. A extrema direita protege estupradores (como no indulto de Daniel Silveira ou na impunidade de milícias) porque a violência sexual é um “custo zero” para o capital, porque mantém mulheres em casa, cuidando de filhos do estupro, sem acesso a creches públicas ou licença-maternidade em muitos casos sem uma rede de apoio já que maioria dos casos acontecem no lar da vítima.

2. A Família Patriarcal como Unidade de Consumo e Reprodução Ideológica: 

A extrema direita não quer “proteger crianças” quer proteger a ideia da família nuclear, onde o trabalho reprodutivo é gratuito. Alexandra Kollontai, revolucionária bolchevique, já alertava em 1920 que o capitalismo precisa da monogamia forçada para garantir herança privada e consumo familiar. Hoje, o neoliberalismo amplifica isso ao desmantelar o Estado de bem-estar. 

Privatização do cuidado: Proibir aborto em casos de má-formação fetal, força famílias a sustentar filhos com necessidades especiais sem apoio estatal. Isso transfere custos do Estado para lares pobres, enquanto a indústria farmacêutica lucra com tratamentos caros. Nancy Fraser, em As Fortunas do Feminismo, chama isso de “crise de cuidado” neoliberal, onde o capital se apropria do trabalho de cuidado das mães, enquanto planos de saúde privados cobram fortunas por terapias especializadas.

Pedofilia como controle geracional: 

A extrema direita tolera redes pedófilas (como as ligadas a pastores bolsonaristas ou à QAnon) porque elas fragmentam a classe trabalhadora. Crianças abusadas crescem traumatizadas, menos propensas a se rebelar contra o sistema é literalmente um plano de fortalecimento de controle da revolta. O neoliberalismo beneficia-se indiretamente, pois indivíduos traumatizados consomem mais antidepressivos e terapias privadas, gerando lucros bilionários.

3. O Neoliberalismo como Braço Econômico da Extrema Direita: 

David Harvey, em Uma Breve História do Neoliberalismo, define o projeto como “acumulação por despossessão”. A extrema direita fornece o discurso moralista; o neoliberalismo, a infraestrutura econômica e o mercado clandestino de aborto. No Brasil, o mercado paralelo de misoprostol movimenta bilhões, enquanto clínicas privadas cobram até R$ 20 mil por curetagens “de emergência”. A proibição do aborto é, portanto, um subsídio indireto ao capital médico. Políticos neoliberais como Tarcísio de Freitas (SP) ou Romeu Zema (MG) cortam verbas da saúde pública enquanto igrejas aliadas lucram com “clínicas pró-vida” que vendem ultrassons a R$ 300.

Endividamento familiar: Mulheres que abortam clandestinamente enfrentam complicações graves (hemorragias, infecções). Sem SUS fortalecido, recorrem a empréstimos consignados (bancos como Itaú ou Bradesco) para pagar UTIs privadas. A escritora Cinzia Arruzza, chama isso de “feminismo de mercado cooptado” e a direita finge proteger “bebês” enquanto endivida famílias trabalhadoras.

Terceirização da culpa: O discurso “pró-vida” desvia a raiva popular do desemprego (9% no Brasil, 2025) para “feministas assassinas”. Isso impede greves e mobilizações. Wendy Brown, em Desfazendo a Democracia, explica que o neoliberalismo governa por “responsabilização individual” logo nessa lógica, vítimas de estupro são culpadas por “não se prevenir”, enquanto estupradores são “homens de família” perdoados.

4. O Ganho Político: 

Dividir a Classe Trabalhadora com Moralismo Reacionário. Louis Althusser, em Ideologia e Aparelhos Ideológicos de Estado, descreve como a família e a igreja funcionam como “AIEs” para reproduzir a dominação. A extrema direita usa o discurso “pró-vida” para Neutralizar o feminismo ao criminalizar o aborto mesmo em casos de estupro, transformam vítimas em “assassinas”. Isso desmobiliza mulheres trabalhadoras, que gastam energia em batalhas morais em vez de se unirem contra o capitalismo e as opressões que sofrem, podemos aplicar aqui o exemplo da rivalidade feminina no contexto moral, onde mulheres são usadas pela extrema direita para lutarem contra outras mulheres e contra si mesmas.

Aliança com o grande capital:

Empresários como os donos de redes de abortos clandestinos (muitas vezes ligados a igrejas) lucram com a ilegalidade. No Brasil, o mercado paralelo movimenta bilhões, enquanto hospitais privados cobram fortunas por curetagens “de emergência”.

5. Conclusão:

Só o Socialismo Feminista Pode Acabar com Essa Lógica. A extrema direita defende estupradores e pedófilos porque eles são úteis: mantêm mulheres submissas, crianças como futuro exército de reserva e famílias como unidades de consumo endividadas. O neoliberalismo potencializa isso ao privatizar saúde, educação e cuidado, transformando direitos em mercadorias. O aborto legal, seguro e gratuito em todos os casos é uma ameaça direta a essa lógica, pois dá às mulheres controle sobre sua força de trabalho reprodutiva.

Como dizia Clara Zetkin, “A emancipação da mulher trabalhadora só será possível com a emancipação da classe trabalhadora”. Só derrubando o capitalismo, com creches públicas, salário para trabalhadoras de casa, saúde reprodutiva universal e punição real a estupradores (em vez de indulto) que  acabaremos com a exploração que a extrema direita e o neoliberalismo tanto protegem.

Referências principais que usei:

Federici, Silvia. Calibã e a Bruxa (2004)  

Davis, Angela. Mulheres, Raça e Classe (1981)  

Mies, Maria. Patriarcado e Acumulação em Escala Mundial (1986)  

Fraser, Nancy. As Fortunas do Feminismo (2013)  

Harvey, David. Uma Breve História do Neoliberalismo (2005)  

Arruzza et al. Feminismo para os 99% (2019)  

Brown, Wendy. Desfazendo a Democracia (2015)  

Marx, Karl. O Capital, Vol. 1, Cap. 23

Este artigo é uma síntese crítica para fins educativos, todas as referências usadas são importantes para embasar o texto e influenciar em pesquisas e leitura de obras que tratam do assunto. 

A violência sexual é uma arma do capital que só o socialismo pode desarmar.


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