Como as novas regras da Meta afetam as mulheres?
aplicativos_0428202598

Como as novas regras da Meta afetam as mulheres?

Mark Zuckerberg anuncia mudanças na política da empresa que afetam diretamente a agenda da luta feminista

Vanessa Quadros 13 jan 2025, 10:37

A vitoria de Donald Trump nos EUA abre um novo cenário para a luta das mulheres. No coração do capitalismo, Trump autoriza declarações alinhadas à extrema direita em todo o mundo. Ainda no ano passado, Trump intercalava sessões judiciais e agendas de campanha eleitoral e mesmo após condenado recentemente, alega uma ‘’caça às bruxas’’ de ‘’democratas radicais’’. Em 2022, ainda no governo Biden, um importante retrocesso do direito ao aborto legal foi votado na Suprema Corte Americana, derrotando uma lei de 1973 fruto do processo judicial chamado Roe v. Wade. Desde então, o acesso ao aborto seguro e legal se dificultou e se tornou o centro da preocupação das ativistas americanas. Nesse contexto, Mark Zuckerberg anuncia mudanças na política da empresa que afetam diretamente a agenda da luta feminista.

Em um vídeo direto e claro, Zuckerberg acena ao Trumpismo ao defender a tal ‘’liberdade de expressão’’ que autoriza na verdade a liberdade de oprimir e difundir informações falsas. Vale a leitura do artigo ‘’Zuckerberg acenou ao trumpismo para defender o lucro bilionário das BigTechs’’ na Revista Movimento. Do ponto de vista dos direitos das mulheres, essa decisão facilita o surgimento de falsas polêmicas em relação a várias pautas do programa feminista que no Brasil tem sido diretamente atacado na Câmara Federal com a pec 164/2012: após denúncias das nossas parlamentares Sâmia Bomfim (SP) e Fernanda Melchionna (RS) aos pacotes de Arthur Lira no ano passado, essa pec de Eduardo Cunha foi usada como resposta. Afinal, a moralidade rasa é uma ferramenta clássica da narrativa fascista para ganhar mentes e corações do povo.

Nesse sentido, seguem alguns pontos de alerta após a declaração de Zuckerberg:

1. Depreciação da imagem: é importante nos preocuparmos com a imagem de lideranças feministas. No passado recente do Brasil, foi muito comum a divulgação de imagens e vídeos espalhando mentiras sobre Marilles Franco e tantas outras. Apenas ano passado os mandantes do assassinato de Marielle Franco foram devidamente julgados e condenados. Mas a imagem e a memória de Marielle e sua família foram violentamente agredidas. Vale lembrar também o caso da atriz Klara Castanho, que teve sua privacidade exposta nas redes sociais após ter uma gestação fruto de um estupro. Por isso, não podemos deixar que esse tipo de atitude se naturalize com as novas políticas da Meta.

2. Direitos reprodutivos: como citado anteriormente, os direitos reprodutivos já sofreram ataques nos EUA e vêm sendo atacados paulatinamente no Brasil. Essa pauta depende essencialmente de um debate sóbrio e maduro, pois sensibiliza a cultura e religiosidade da sociedade. A nova política simplista da Meta pode criar um ambiente hostil em que esse debate se reduza à moralidade infantil da extrema direita que se diz ‘’pró-vida’’ e que vê o corpo da mulher como propriedade. Isso dificulta o avanço futuro desse debate com a sociedade, afinal, do ponto de vista estratégico do movimento, nossa luta é por um sociedade onde o aborto seja legal, seguro e gratuito. Nesse sentido, o quadro que se configura hoje para essa pauta é de uma luta por conservação do direito ao aborto em caso de estupro e risco a vida da mulher, bem como o acesso a contraceptivos.

3. Objetificação: agora pode-se dizer que mulheres são objetos da casa, se referir a pessoas trans com o pronome ‘it’ ( que se refere a objetos em inglês) e definir pessoas LGBTQ+ como ‘’doentes mentais’’. Essas expressões eram antes proibidas nas redes sociais da meta. Os alvos são evidentemente aqueles que votaram contra Bolsonaro em 2022 e Trump em 2024: mulheres e LGBTQs. Assim, em 2025, será necessária uma forte campanha contra as políticas da Meta, combinada as agendas de luta de 2024.

Em que pese a batalha de Lula e Morais para que a Meta se explique sobre as novas políticas, entre os de baixo é necessário ter luta e movimento social de rua. Em junho de 2024, o movimento feminista mostrou que é possível, organizando em menos de 24h uma resposta ao PL 1904 de Lira. O 8 de março, dia internacional da mulher, e o carnaval serão as primeiras oportunidades de pedir a prisão de Bolsonaro, o fim da escala 6×1 e do arcabouço fiscal. 


Parceiros

Entre em contato!

Política de privacidade

Mensagem enviada com sucesso!