A nova situação mundial e a urgência das lutas para frear o fascismo

A nova situação mundial e a urgência das lutas para frear o fascismo

Atravessamos um período duro na conjuntura mundial que, neste ano, tem como marca o retorno de Trump à presidência dos EUA. Mesmo tendo completado 100 dias de mandato recentemente, esse governo já escancara a aliança entre bilionários e conservadores, operando – e inspirando – políticas neofascistas que tem como objetivo eliminar direitos da população, atacando […]

Coordenação Nacional do Juntas 27 maio 2025, 15:41

Atravessamos um período duro na conjuntura mundial que, neste ano, tem como marca o retorno de Trump à presidência dos EUA. Mesmo tendo completado 100 dias de mandato recentemente, esse governo já escancara a aliança entre bilionários e conservadores, operando – e inspirando – políticas neofascistas que tem como objetivo eliminar direitos da população, atacando imigrantes, negros, LGBTs, mulheres e a universidade como um todo. Um governo imperialista e autocrata na principal economia do mundo não pode ter como consequência outra coisa senão o fortalecimento da extrema-direita e, por isso, os desafios que se colocam são muitos. Além da limpeza étnica e social operada pela extrema-direita, o mundo caminha entre novos conflitos, como a tensão oriunda da suposta guerra tarifária e que se mostrou como um sintoma de conflitos geopolíticos ainda maiores. 

O fato é que a classe trabalhadora é quem mais sofre com as consequências da política global que se impõe, que acaba por desviar o foco da crescente precarização da vida e do trabalho diante da flexibilização de direitos e ataques à organizações sindicais, dificuldade de acesso a serviços públicos, aumento da violência, falta de moradia dignas e insegurança alimentar. Além disso, o aumento de poder e influência das plataformas digitais têm revelado como a tecnologia pode contribuir ainda mais com a exploração ao permitir e auxiliar a existência de longas jornadas de trabalho, com baixa remuneração e nenhuma proteção social, trazendo consigo o aumento da desigualdade. As manifestações que aconteceram em várias partes do mundo no dia 1o de Maio, reivindicando melhores condições de trabalho e redução da jornada, demonstram que há organização de alguns setores contra a precarização da vida, mas ainda sem força de mobilização das massas. 

 A extrema-direita vem se fortalecendo diante da crise do capital às custas da classe trabalhadora. No Brasil, com a crescente perda de popularidade que o governo Lula vem sofrendo por não conseguir melhorar a vida do povo – aumento dos juros, da Selic, do preço dos alimentos -, a extrema-direita tem se reorganizado, apesar da crise de representação com a possibilidade da prisão de Bolsonaro. O caso recente das fraudes no INSS serviu para intensificar a articulação bolsonarista, numa tentativa de desgastar ainda mais o governo e alimentar uma narrativa de caos da gestão pública. Além disso, o gesto da presidência da Câmara ao encaminhar o pedido de suspensão da ação penal contra o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ) acena positivamente àqueles que pretendem anistiar os golpistas do 8 de janeiro. 

Por trás desses cenários, a crise climática segue se intensificando enquanto assistimos às políticas ambientais sendo submetidas ao capital e à incapacidade dos governos em ao menos tentar mitigar os danos. Efeitos significativos disso são sentidos diariamente pela classe trabalhadora, visto que não é apenas uma questão ambiental, mas uma emergência de saúde pública que afeta profundamente o bem-estar físico e psicológico das populações, e a cada desastre natural que se repete, as consequências são ainda mais graves. Como no caso do Rio Grande do Sul, que vive novos períodos de chuva intensa apenas 1 ano após a tragédia de 2024, tempo insuficiente para que o solo tenha se recuperado para absorver grandes quantidades de chuva e colocando o estado gaúcho em alerta. A crescente demanda por minérios usados na transição energética também tem colocado em risco a segurança climática em vários pontos do Brasil, principalmente pelo aumento do desmatamento. Eventos climáticos extremos costumam intensificar desigualdades já existentes, pois as populações mais vulneráveis ou em condições precárias de moradia possuem menos recursos para se adaptar e responder à crise. Em novembro desse ano, Belém do Pará recebe a COP-30, muito devido à importância da Amazônia nas discussões climáticas do mundo todo. Mas longe de se colocar a serviço das políticas ambientais e de sustentabilidade que serão discutidas no próprio evento, os organizadores pouco têm se preocupado com impactos ambientais e sociais das obras para o evento, com destaque para o desmatamento que avançam sobre áreas protegidas e a remoção de moradores, e o fato dos projetos não considerarem a participação e o controle social, colocando a população amazônica em maior vulnerabilidade. As obras têm impactado drasticamente, também, as comunidades de palafitas em Belém, que agora recebem o esgoto e entulhos de bairro nobre, após início das obras para a COP. Nesse sentido, caberá aos movimentos sociais disputar o sentido da COP e colocar a situação de emergência em que vivem aqueles e aquelas atingidos por enchentes e pelo calor. Afinal, que orientação as lideranças globais podem oferecer daqui pra frente para os serviços públicos, como escolas e universidades diante das intensas chuvas e ondas de calor? Nos parece que não é o objetivo da COP responder essa pergunta, assumindo a necessidade de um freio para o capitalismo predatório. Por isso nos colocamos com o exemplo do movimento indígena do Pará que junto com o sindicato dos professores fez uma importante mobilização em 2024. Nossa aposta para a COP 30 está na mobilização daqueles que não aceitam como as mudanças climáticas como ‘’novo normal’’ 

Como vemos, o cenário como um todo é marcado por incertezas. O movimento feminista, assim como demais movimentos sociais, enfrenta um refluxo de lutas no país, em partes pela linha de pacificação do governo Lula, mas também pela falta de espaços permanentes e a baixa dinâmica de organização para além do calendário feminista. Isso  dificulta a construção de uma agenda independente e de esquerda para nortear ações conjuntas. O movimento de mulheres negras vem se preparando para realizar uma nova marcha nacional em Brasília, dia 25/11, 10 anos após a histórica Marcha de Mulheres Negras que ocupou a capital federal contra o racismo, a violência e pelo bem-viver, reunindo cerca de 100 mil mulheres. A construção desta data, assim como a mobilização para a marcha, são tarefas importantes que devem nortear a atuação do movimento feminista durante o ano. 

É urgente seguir denunciando as políticas que afetam diretamente a vida da classe trabalhadora, mas também precisamos fortalecer e intensificar os processos de luta em andamento, a exemplo dos trabalhadores que reinvindicam o fim da escala 6×1, das populações indígenas em Belém contra a lei que ameaça a educação presencial de indígenas e quilombolas, das milhares de pessoas que protestaram em Haia contra o genocidio do povo palestino. Não podemos ignorar que toda crise social, econômica ou política coloca sob ameaça os direitos das mulheres, e é imperativo nos mantermos vigilantes, principalmente no que diz respeito aos direitos reprodutivos e à pauta golpista para que nada avance no congresso sob disfarces institucionais. 


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