Basta de assédio!

Basta de assédio!

Diante de tantos casos de exposed, precisamos refletir sobre como lidar com casos de assédio em escolas e universidades.

Laís Buarque e Sol Aquino 8 jul 2020, 15:14

Nas últimas semanas, têm sido expostos muitos casos de assédio, em especial nas escolas e universidades. Esses casos não são isolados da realidade que vivemos, e são um reflexo do machismo enraizado na nossa sociedade. O assédio é um mecanismo de silenciamento e de inferiorização que tem como objetivo nos retirar dos espaços públicos – em especial de espaços de produção de saber como as universidades. 

Mesmo em um período de pandemia, em que a maioria das instituições vêm utilizando do ensino à distância para prosseguir com o calendário escolar, esse quadro não mudou. Desde o primeiro momento, acompanhamos diversas denúncias através das redes sociais, campanhas de mobilização contra o assédio, criação de tags para maior repercussão dos casos e, mesmo com toda mobilização, poucas foram as escolas e universidades que deram qualquer resposta. As poucas que sim, tiveram o posicionamento de “passar por baixo dos panos”, visando mais a manutenção impecável de sua imagem do que, de fato, discutir o problema e planejar medidas para evitar novos casos.

É importante ressaltar, também, que o assédio e outras violências da mesma categoria afetam não somente mulheres cis. Cada vez mais e mais cedo, as pessoas têm se descoberto trans – tanto binárias quanto não-binárias, entretanto, não são todas que têm acesso ou mesmo querem passar por cirurgias e tratamentos hormonais. Temos uma vasta diversidade de gêneros e expressões de gênero que devem ser respeitadas e, por muitas vezes, não são. O resultado são alunes* trans, principalmente ês que foram designades mulheres e são lides pela sociedade como mulheres (utilizaremos o termo, não oficial, “pessoas trans L.M.” ao longo do texto), sofrendo a dupla violência do machismo e da transfobia nos ambientes educacionais, tendo que lidar com a recusa do uso do nome social e os pronomes corretos e toda burocracia necessária para garantia do mínimo de respeito com sua identidade de gênero, além de também serem potenciais vítimas de assédio.

Precisamos criar mecanismos para que esses casos sejam denunciados e as denúncias acatadas, para que se criem medidas efetivas que garantam a segurança das mulheres e pessoas trans L.M agredidas, além de conscientizar a sociedade sobre o que é assédio, como ele deve ser combatido e como se pode buscar ajuda. Como, por exemplo, a criação de ouvidorias para receber denúncias e fazer o encaminhamento formal desses casos, contando com a participação de mulheres e pessoas trans L.M das diversas categorias da área da educação – estudantes, professoras, técnicas e terceirizadas – para se debater o que fazer nos casos de assédio. Como também a realização de campanhas para conscientização de professores, alunos e trabalhadores das escolas e universidades sobre o que é assédio, como se pode denunciar e o que podemos fazer para combatê-lo. 

O machismo está enraizado em todas as nossas relações sociais, desde nossa criação, naturalizando as violências cotidianas, por isso é tão importante o debate constante sobre esse tema, para que possamos inverter essa lógica e criar espaços seguros para as mulheres e pessoas trans L.M, em toda sua pluralidade.

Vivemos a primavera feminista, tomamos o protagonismo com o Fora Cunha em 2015, na luta contra o estupro coletivo em 2016, na luta contra as reformas de Temer e à favor do Ele Não, em 2018. Estamos a frente do enfrentamento às desigualdades e do avanço da extrema direita, e sabemos que para dar continuidade à sua agenda, é necessário nos constranger e calar nossa voz. Essa agenda é promovida pelo governo misógino de Jair Bolsonaro, que tem a frente do ministério da mulher uma antifeminista, Damares Alves, que despreza os direitos conquistados pelas mulheres historicamente. Nós não daremos nenhum passo atrás em relação às nossas conquistas, vamos nos manter organizadas enquanto mulheres cis, mulheres trans e pessoas não-binárias para lutar e transformar a sociedade!

*Linguagem neutra (pronomes e/elu/delu/-e) utilizada para incluir pessoas não-binárias.


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