Boletim Internacional Feminista
Conquista do aborto legal no México, retrocessos nos EUA e a situação das mulheres no Afeganistão.
Afeganistão
Desde 31 de agosto o novo Talibã assumiu integralmente o governo do Afeganistão. Existe um grande temor internacional sobre quais serão as diretrizes do novo governo, especialmente no que diz respeito à interpretação do grupo da Sharia, a lei islâmica. Completando duas semanas de governo, o que assistimos é a formação de um governo completamente masculino e conectado a uma interpretação extremamente violenta da sharia. Mulheres foram oficialmente proibidas de praticar qualquer esporte e não podem sair de casa sem estar acompanhadas de um homem. A regra geral é que postos de trabalho e educação são só para homens, apesar de algumas poucas exceções. Questionados se voltarão a usar apedrejamento e amputamento de membros como punição oficial à mulheres por crimes como adultério, o Talibã não quis responder. Mas as mulheres não estão apenas assistindo seus direitos serem retirados. Aumentam todos os dias as manifestações de mulheres pelo Afeganistão. A represália é grande: imagens de Cabul mostram um ato de cerca de 50 mulheres ser recebido com uma chuva de tiros pelo exército Talibã. Diversas mulheres ficaram feridas. Mas, no dia seguinte, voltaram as ruas, todos os dias com um número um pouco maior de mulheres.
Estados Unidos
O Estado do Texas se somou a lista de Estados americanos que estão modificando suas leis sobre aborto no país. A iniciativa, uma promessa de campanha do ex-presidente Donald Trump, segue seu curso de ataque a saúde reprodutiva da mulher por meio de deputados estaduais republicanos, modificando a lei Estado a Estado. Hoje, o Texas é o Estado americano com as leis mais restritivas de acesso ao aborto nos Estados Unidos. O aborto só é permitido até seis semanas após a última menstruação. Médicos e especialistas dizem que é um prazo que visa inviabilizar o acesso ao procedimento, já que a maioria das mulheres ainda não terá descoberto sobre a gravidez. A lei também proíbe direito ao aborto a mulheres que tenham sofrido um estupro. Agora, qualquer cidadão pode denunciar na justiça uma mulher que fez um aborto fora da lei, e também a clínica e o médico que fizeram o procedimento. Até mesmo o motorista do Uber que levou uma mulher até a clínica pode ser processado. E ganhar até 10 mil dólares “de reparação”, mesmo que nunca tenham encontrado aquela pessoa na vida. Não é mais o Estado que está atrás dessas mulheres: qualquer residente do Texas se tornou vigilante do corpo das mulheres.
México
Nos dias 7 e 8 de setembro, a Suprema Corte do México votou pela descriminalização do aborto em todo o país, considerando inconstitucional as leis de proibição do aborto. Apenas 4 dos 32 estados mexicanos legalizaram amplamente o aborto. Isso é um grande avanço para a luta em defesa da vida das mulheres. No México, estima-se que sejam realizados mais de 1 milhão de abortos, a maioria clandestinos, segundo o Instituto Guttmacher. Com o aborto descriminalizado, nenhuma mexicana poderá ser presa por abortar, e espera-se que nenhuma mais tenha que correr risco de vida para abortar. No horizonte, temos aborto legal, seguro e gratuito para que não morramos!
Além disso, no dia 11 de setembro a estátua de Cristóvão Colombo (colonizador) foi retirada da Cidade do México e no local estará uma estatua em homenagem a mulher indígena. Na ocasião a prefeita Claudia Sheinbaun falou “É lógico que nós reconhecemos Colombo. Mas há duas visões”, disse Sheinbaum. Continuando seu pronunciamento, ela explicou que uma visão é a dos europeus, de que a América foi “descoberta” e a outra é a visão que reconhece que o continente já tinha vida própria muito antes da chegada dos colonizadores. É um importante avanço da luta decolonial na América Latina, onde já tivemos diversos monumentos de homenagem aos colonizadores destruídos.